terça-feira, 16 de março de 2010

ERVAS DANINHAS?


ERVAS DANINHAS?

Comumente ouvimos as pressoas se referindo às ervas do campo com uma denominação pejorativa. Mas será se elas são mesmo daninhas? Por que as denominamos desse modo se elas, de fato, são muito mais úteis do que danosas. Por puro preconceito, muitas vezes rejeitamos pessoas ou coisas, as quais poderiam ser muito úteis se soubéssemos o seu real valor.
Elas não precisam de cultivo para que nasçam e cresçam. Simplesmente nascem e cumprem o seu papel na natureza. Tudo ecologicamente equilibrado. Ao cairem chuvas, no dia seguinte já podemos ver o festival de ervas brotando aqui, ali e acolá. De repente, o que antes parecia morto, é revitalizado, o verde abundante revela o fresco vigor da vida a brotar. Não há palavras para descrever a beleza desse descortinar panorâmico ao nosso redor. É uma inspiração para o mais sensível artista quer combinando as cores em telas através de hábeis pincéis, quer através de sons harmoniosos, soando seus acordes sonantes ou dissonantes, em harmonia, em perfeita harmonia, um mesclar de sons e pausas de duração variável que resulta numa peça inesquecível.
Volto a pensar nas ervas ditas daninhas. Como podem ser assim tratadas se o próprio Senhor as dispõe de beleza e luxo que nem mesmo Salomão em todo o resplendor de sua glória foi incapaz de se igualar a essas humildes e frágeis plantinhas, que hoje brotam e amanhã secam? Posso sentir, mesmo que de longe, o amor de Deus por nós, cuidando de cada função de nosso organismo, trabalhando de modo impecável. Certamente funcionará em perfeito ritmo. Em harmonia com a natureza, a menos que baixemos a guarda e deixemos de nos cuidar.
Como podem ser daninhas se têm um papel importantíssimo no equilíbrio ecológico que o homem vive a desequilibrar? O primeiro papel delas é manter a terra ao seu redor nutrida, tentando impedir que as enxurradas arrastem os nutrientes para os rios e estes para o mar. Os nutrientes devem ficar na terra, no lugar onde se encontram. Mas lá vem o homem e passa a enxada, limpando o terreno, favorecendo o êxodo dos nutrientes rumo ao mar, onde não terão a mesma utilidade. E para compensar esse contra-senso, envenenam a terra com agrotóxicos e adubos químicos.
Daninhas, coisa nenhuma. Lá onde elas nascem, além de tudo o que já foi dito, elas ajudam a conservar a terra, evitando a erosão. Sem elas, o enxurro cava sulcos e erode o campo, um componente de destruição ambiental atingindo flora e fauna.
Quase que cometi um sacrilégio com uma erva nada desejável. A secretária do lar foi ao quintal e voltou se queixando à minha esposa que havia se queimado numa urtiga. E eu nem sabia que havia isso ali. Imediatamente fui acionado para exterminá-la. Fui logo contra, pois sabia que havia uma grande utilidade nessa erva e procurei logo me informar de suas propriedades. Além de ser uma excelente verdura, utilizada na cozinha escocesa desde a Idade Média, as folhas jovens de urtiga podem ser consumidas cruas em salada, em omeletes, em sopas ou simplesmente cozidas, como os restantes legumes. A ação urticante de suas folhas cessam 12 horas após a colheita ou se fervida. Ainda é utilizada contra casos de anemia, artrite e reumatismo, no tratamento de eczemas e acne, contra a queda do cabelo e no retardamento da hipertrofia da próstata. Tem efeitos desintoxicante, antianêmico e diurético. Ainda é indicada para tratamento de hipertensão e diabetes.
Então, trouxe a Urtiga ao seu real status de planta medicinal, e criei um canteiro só para ela e seus filhos. Fui queimado pelo ácido de suas folhas, mas só mesmo uma base contra ácido. Imediatamente ensaboei o dorso de minhas mãos e o queimor cessou.
Tomando isso para a vida diária, somos muitas vezes impelidos pelo preconceito e preterimos pessoas que seriam bênçãos para nossas vidas. Pessoas muitas vezes ácidas, mas com um enorme potencial que se soubéssemos com elas lidar poderíamos conduzi-las a grandes conquistas. A aparente ação urticante delas seria facilmente ofuscada pelas qualidades e frutos que certamente iriam produzir e colher.
A primeira impressão não é a que deve permanecer. As aparências enganam, a ignorância mata, mas o conhecimento revitaliza e constrói, resultando numa convivência pacífica e harmoniosa do homem com o seu habitat. A convivência harmoniosa, a valorização do indivíduo, o respeito mútuo fortalece a Família, nossa razão de ser e base para uma sociedade sadia, sólida, equilibrada e produtiva.

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