Autores: Um desafio cordelístico sobre Limeirismo entre:
Bosco Esmeraldo
Daniel Fiúza
Alessandra Lully Ferrario
Ana Flor do Lácio
(*) LIMEIRISMO: Artifício utilizado por Zé Limeira, inventando palavras ou frases sem nexo pelo simples fato de forçar uma rima quando esta lhe faltava. Transparece na obra desse famoso cordelista que na poesia, o mais importante é a rima, estando o verso, a harmonia, o sentido e a ideia relevado a último ou a nenhum plano.
BOSCO ESMERALDO
Quando o Hebdomadário <-- (calendário)
Começou fazer poesia
Assim, da noite pro dia
Pra tornar-se um mandatário
Travestiu-se em dromedário.
Tracei cá pior asneira
Nego planta bananeira
Colhe-se figo do espaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
DANIEL FIÚZA
Um galo cantou ao longe
Acordando a vizinhança
uma menina de trança
Foi reclamar com o monge
Um bode velho que tange
E pega boi na carreira
Se esconde atrás da trincheira
Com o pessoal do cangaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
BOSCO ESMERALDO
O Astronauta Dom Fiúza
Que também é motorneiro
Derna quano era isoneiro
Que a pipa parafusa
Nos cascos na preta fusa* <- (Limeirismo)
Lá do sol "corró, quebreira"* <- (Limeirismo)
Nos cacho da carabina
Pelo fluxo da menina
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira
DANIEL FIÚZA
Passei um dia em Macau
Passeando de charrete
Jantei numa lanchonete
Comi feijão com mingau
Depois toquei berimbau
Pra deleitar uma freira
Nascida em ilha madeira
Navegando num barcaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
BOSCO ESMERALDO
Dom Fiúza, de repente
Ele é bão demais dá conta
Quebra couro, boi de ponto
Matutu, chorró de enchente <- (Limeirismo)
"Purulu, potó, pelente"* <- (Limeirismo)
Pratichuli de pauleira <- (Limeirismo)
Ponta Porã da Ribeira
Invenção, pratá pró laço <- (Limeirismo)
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira
DANIEL FIÚZA
Montado num elefante
Eu vi a banda passar
E um tatu me mostrar
Um dente fino e cortante
Tal qual um rinoceronte
Descendo a ribanceira
Montado numa esteira
Sem cometer erro crasso
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
BOSCO ESMERALDO
Tripa seca manguá Riba*
Ribamar, riba do rio*
Qué cum lé, não dá um pio*
Muito estrume se estriba
Poeta das Caraíba
Sabido num diz besteira
Navio sem eira ou beira
Espora, taca, compasso
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira
DANIEL FIÚZA
O filho da véia kenga
Cujo nome não me lembro
Foi de abril a setembro
Trampando num lengalenga
Cabra que gosta de arenga
E de fumar com piteira
Carrega cesta na feira
Nas costa tem um inchaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
BOSCO ESMERALDO
O amigo mandou bem
Fazendo u'a obra da prima
Do absurdo eu crio rima
No Uól Strit di Belém
No morro o sino blém-blém*
Couro cru na bandoleira
No Exército baladeira
Nuvem lhe sai do cachaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira
DANIEL FIÚZA
Foi visto na madrugada
Aquilo que o bicho come
vestido de lobisomem
acompanhando uma fada
numa floresta fechada
plantada de seringueira
berrando a noite inteira
se ouvia até no terraço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
LULLY FERRARIO
Atravessei os sertões
Em pêlo no meu tordilho
Não comi churros nem milho
Tampouco comi feijões
Dados pelos aldeões
Subi numa laranjeira
De repente deu canseira
Me deixando num bagaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
DANIEL FIÚZA
Por cima tinha o vestido
por baixo vinha anágua
Com o olho cheio de mágoa
Por ser assim atrevido
Teimoso e maluvido
Gostar de dizer besteira
Fazendo arte ligeira
Com cobre, ferro e aço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
BOSCO ESMERALDO
Quando o galo de campina
Campina Grande da serra
Vê que o mote se emperra
Brincadeira de menina
De rapaz que se amofina
Vem na frente, de tranqueira
Injustiça brasileira
Da cobra arco e flecha eu faço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
DANIEL FIÚZA
Chiquinha fia do Zé
Neta da velha coroca
Morreu comendo paçoca
Na mesa dum cabaré
Jantando com Nazaré
Uma mulher encrenqueira
Nascida na Mantiqueira
Onde eu criava cachaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
BOSCO ESMERALDO
Faca, peixeira sem ponta
Bomba cega sem estopim
Quem pode valer a mim
Parafuso, rosca, afronta
Quando quiser ficar pronta
Tudo o mais é só doideira
Café se faz na chaleira
Rapadura no bagaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
DANIEL FIÚZA
Uma cabrita lesada
Fugiu pro Rio de janeiro
Ficou até fevereiro
Voltando numa enxurrada
De bucho toda emprenhada
Pariu numa sexta feira
Lá dentro da geladeira
Nasceu um filho sem baço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
BOSCO ESMERALDO
De bucho, toda emprenhada
Saltou a macaca Chita
Falando qual mexerica
Sem ficar encabulada
Uma boa companheira
De Tarzan, mas que besteira
De concreto tem bom traço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
DANIEL FIÚZA
Segui pegadas de cobra
mordido por urubu
Pulei do norte pro sul
Pra terminar uma obra
Comendo resto e sobra
Em casa de carpideira
Desci pela cumeeira
Quase levei um balaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
BOSCO ESMERALDO
Segui os rastros da cobra
E também suas digitais
Seus retratos virtuais
Fazem parte da manobra
Porque ninguém não me dobra
Não gosto de baderneira
Capim santo, laranjeira
Pega a cobra e dá um laço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé Limeira.
DANIEL FIÚZA
Quando estive em Canindé
Capital de Maceió
Onde nasceu minha vó
Quando inventou a colher
Foi forjada na coité
Na casa de João Teixeira
Afiador de peixeira
Bebendo pinga e melaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé limeira.
BOSCO ESMERALDO
Na casa da minha vó
Sou tratado a pão de ló
Pois ela é mãe de Mamãe
Pai é pai e mãe é mãe
Vô é vô e vó é vó
Amizade de primeira
Minha glosa derradeira
Pela interação me engraço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé limeira.
ANA FLOR DO LÁCIO
P´ra casa do meu paizinho
Eu vos convido, amigos!
Fica um segredinho
Lá sereis bem tratados
Bom e velho Portinho
Figos, bolo, melaço!
Desde a uva à videira
De nada me desfaço
Eu querendo também faço
Igualzinho a Zé limeira.
Excelente, mestres! Parabéns! Não pude resistir:
Valeu Daniel e Lully e Ana!
Ficou simples e absurdamente perfeito.
Esta obra teve como objetivo entender e resgatar o POETA DO ABSURDO.
O mote foi sugerido pelo poeta Mestre Daniel Fiúza - DomFiúza.
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