quarta-feira, 6 de julho de 2011

EU QUERENDO TAMBÉM FAÇO, IGUALZINHO AO ZÉ LIMEIRA

Autores: Um desafio cordelístico sobre Limeirismo entre:
    Bosco Esmeraldo
    Daniel Fiúza
    Alessandra Lully Ferrario
    Ana Flor do Lácio

(*) LIMEIRISMO: Artifício utilizado por Zé Limeira, inventando palavras ou frases sem nexo pelo simples fato de forçar uma rima quando esta lhe faltava. Transparece na obra desse famoso cordelista que na poesia, o mais importante é a rima, estando o verso, a harmonia, o sentido e a ideia relevado a último ou a nenhum plano.

BOSCO ESMERALDO
     Quando o Hebdomadário             <-- (calendário)
     Começou fazer poesia
     Assim, da noite pro dia
     Pra tornar-se um mandatário
     Travestiu-se em dromedário.
     Tracei cá pior asneira
     Nego planta bananeira
     Colhe-se figo do espaço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

DANIEL FIÚZA
     Um galo cantou ao longe
     Acordando a vizinhança
     uma menina de trança
     Foi reclamar com o monge
     Um bode velho que tange
     E pega boi na carreira
     Se esconde atrás da trincheira
     Com o pessoal do cangaço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO
     O Astronauta Dom Fiúza
     Que também é motorneiro
     Derna quano era isoneiro
     Que a pipa parafusa
     Nos cascos na preta fusa*                <- (Limeirismo)
     Lá do sol "corró, quebreira"*              <- (Limeirismo)
     Nos cacho da carabina
     Pelo fluxo da menina
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira

DANIEL FIÚZA
     Passei um dia em Macau
     Passeando de charrete
     Jantei numa lanchonete
     Comi feijão com mingau
     Depois toquei berimbau
     Pra deleitar uma freira
     Nascida em ilha madeira
     Navegando num barcaço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO
     Dom Fiúza, de repente
     Ele é bão demais dá conta
     Quebra couro, boi de ponto
     Matutu, chorró de enchente          <- (Limeirismo)
     "Purulu, potó, pelente"*                <- (Limeirismo)
     Pratichuli de pauleira                    <- (Limeirismo)
     Ponta Porã da Ribeira
     Invenção, pratá pró laço               <- (Limeirismo)
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira

DANIEL FIÚZA
     Montado num elefante
     Eu vi a banda passar
     E um tatu me mostrar
     Um dente fino e cortante
     Tal qual um rinoceronte
     Descendo a ribanceira
     Montado numa esteira
     Sem cometer erro crasso
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO
     Tripa seca manguá Riba*
     Ribamar, riba do rio*
     Qué cum lé, não dá um pio*
     Muito estrume se estriba
     Poeta das Caraíba
     Sabido num diz besteira
     Navio sem eira ou beira
     Espora, taca, compasso
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira

DANIEL FIÚZA
     O filho da véia kenga
     Cujo nome não me lembro
     Foi de abril a setembro
     Trampando num lengalenga
     Cabra que gosta de arenga
     E de fumar com piteira
     Carrega cesta na feira
     Nas costa tem um inchaço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO
     O amigo mandou bem
     Fazendo u'a obra da prima
     Do absurdo eu crio rima
     No Uól Strit di Belém
     No morro o sino blém-blém*
     Couro cru na bandoleira
     No Exército baladeira
     Nuvem lhe sai do cachaço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira

DANIEL FIÚZA
     Foi visto na madrugada
     Aquilo que o bicho come
     vestido de lobisomem
     acompanhando uma fada
     numa floresta fechada
     plantada de seringueira
     berrando a noite inteira
     se ouvia até no terraço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

LULLY FERRARIO
     Atravessei os sertões
     Em pêlo no meu tordilho
     Não comi churros nem milho
     Tampouco comi feijões
     Dados pelos aldeões
     Subi numa laranjeira
     De repente deu canseira
     Me deixando num bagaço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

DANIEL FIÚZA
     Por cima tinha o vestido
     por baixo vinha anágua
     Com o olho cheio de mágoa
     Por ser assim atrevido
     Teimoso e maluvido
     Gostar de dizer besteira
     Fazendo arte ligeira
     Com cobre, ferro e aço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO
     Quando o galo de campina
     Campina Grande da serra
     Vê que o mote se emperra
     Brincadeira de menina
     De rapaz que se amofina
     Vem na frente, de tranqueira
     Injustiça brasileira
     Da cobra arco e flecha eu faço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

DANIEL FIÚZA
     Chiquinha fia do Zé
     Neta da velha coroca
     Morreu comendo paçoca
     Na mesa dum cabaré
     Jantando com Nazaré
     Uma mulher encrenqueira
     Nascida na Mantiqueira
     Onde eu criava cachaço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO
     Faca, peixeira sem ponta
     Bomba cega sem estopim
     Quem pode valer a mim
     Parafuso, rosca, afronta
     Quando quiser ficar pronta
     Tudo o mais é só doideira
     Café se faz na chaleira
     Rapadura no bagaço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

DANIEL FIÚZA
     Uma cabrita lesada
     Fugiu pro Rio de janeiro
     Ficou até fevereiro
     Voltando numa enxurrada
     De bucho toda emprenhada
     Pariu numa sexta feira
     Lá dentro da geladeira
     Nasceu um filho sem baço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO
     De bucho, toda emprenhada
     Saltou a macaca Chita
     Falando qual mexerica
     Sem ficar encabulada
     Uma boa companheira
     De Tarzan, mas que besteira
     De concreto tem bom traço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

DANIEL FIÚZA
     Segui pegadas de cobra
     mordido por urubu
     Pulei do norte pro sul
     Pra terminar uma obra
     Comendo resto e sobra
     Em casa de carpideira
     Desci pela cumeeira
     Quase levei um balaço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO
     Segui os rastros da cobra
     E também suas digitais
     Seus retratos virtuais
     Fazem parte da manobra
     Porque ninguém não me dobra
     Não gosto de baderneira
     Capim santo, laranjeira
     Pega a cobra e dá um laço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé Limeira.

DANIEL FIÚZA
     Quando estive em Canindé
     Capital de Maceió
     Onde nasceu minha vó
     Quando inventou a colher
     Foi forjada na coité
     Na casa de João Teixeira
     Afiador de peixeira
     Bebendo pinga e melaço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé limeira.

BOSCO ESMERALDO
     Na casa da minha vó
     Sou tratado a pão de ló
     Pois ela é mãe de Mamãe
     Pai é pai e mãe é mãe
     Vô é vô e vó é vó
     Amizade de primeira
     Minha glosa derradeira
     Pela interação me engraço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé limeira.

ANA FLOR DO LÁCIO
     P´ra casa do meu paizinho
     Eu vos convido, amigos!
     Fica um segredinho
     Lá sereis bem tratados
     Bom e velho Portinho
     Figos, bolo, melaço!
     Desde a uva à videira
     De nada me desfaço
     Eu querendo também faço
     Igualzinho a Zé limeira.

     Excelente, mestres! Parabéns! Não pude resistir:

Valeu Daniel e Lully e Ana!
Ficou simples e absurdamente perfeito.
Esta obra teve como objetivo entender e resgatar o POETA DO ABSURDO.
O mote foi sugerido pelo poeta Mestre Daniel Fiúza - DomFiúza.

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